quarta-feira, 8 de setembro de 2010

TURISMO EM PARIS

Parabéns Daniel pela sua viagem, fantástica a sua passagem por esta cidade e por ter compartilhado um pouco disso conosco - os leitores do Blog, de fato, seu começo de semestre deve ter sido 'MERVEILLEUX'.

Daniel, parabéns!
Pela inesquecível viagem e pelo bom gosto nas visitas. Você tem olhar clínico para apreciar o BELO!
Afinal, Paris é o próprio sinônimo da Luxúria, Gula, e do Amor.
Paris é sensualidade, história, beleza e tentação. Quem resiste à renomada gastronomia parisiense, ou a sua pâtisserie? Creio que ninguém.
O coração palpita a visão dos Jardins de Luxemburgo, e ao som da tradicional canção” La Vie em Rose”, ao lado de uma taça de champagne Dom Perignon ou Cristal.
Paris é simplesmente irresistível! Qualquer monumento é um show pela sua iluminação correta e impecável. Os prédios baixos de teto cinza deixam os olhos verem com clareza o azul infinito do céu. Voilá Paris
É sempre muito legal conhecer novas culturas por esse mundo a fora. As fotos ficaram ótimas.
















sábado, 4 de setembro de 2010

Resgatando Memória



CALABAR




MARIO GENTIL COSTA
Médico e Ex prof. da UFSC
Data: Julho Agosto 2006


É engraçado! Nunca engoli essa história. Desde a escola primária, quando fui apresentado a Calabar – “o traidor” – senti ali o cheiro da má-fé e alimentei estranha simpatia por essa figura.
Afinal, por que justamente ele, um dos poucos alfabetizados entre os soldados brasileiros, iria trair os portugueses? Não teria tido um motivo sério, algum tipo de intuição que o levasse a tomar tão drástica decisão?
E à medida que amadureci, fui vendo confirmado um conceito que hoje tomo como axioma: a história, como nos é ensinada, é a versão do vencedor. Eis um exemplo: Tiradentes, traidor para os portugueses, virou mártir e herói brasileiro. O mesmo não teria acontecido com Calabar, se os holandeses tivessem vencido...? Resolvi escrever sobre ele depois de ler o livro histórico “CALABAR”, de Romeu de Avelar, publicado em 1938. Ali fica evidenciado, graças à pesquisa feita pelo autor com sobras da documentação da época, que o aludido traidor poderia ser visto como um herói. Bastaria, para isso, estudar-lhe a pessoa e analisar o espírito dos litigantes: Portugal e Holanda.
Segundo Nietszche, “a história não é feita de fatos, mas de interpretações”, e, segundo Napoleão, “não passa de um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo”. Já Samuel Butler diz que “como Deus não pode alterar o passado, é obrigado a depender dos historiadores”. Não é à toa que Millôr Fernandes, ao referir-se à Guerra do Paraguai, diz que “a história que nos foi contada aqui - na qual Solano Lopez é visto como um bandido - não é a mesma contada lá”, onde ele é um herói cultuado por todas as gerações de crianças guaranis.
Segundo Avelar, “Calabar, depois de ter sido considerado o maior herói do lado português na defesa do Arraial do Bom Jesus, desertou das tropas de Matias de Albuquerque e passou-se para os holandeses, simplesmente porque, como legítimo patriota, concluiu que os interesses do Brasil estariam melhor servidos do outro lado.”
Palavras do autor: “Calabar era o maior soldado brasileiro e o mais temido. Arguto e determinado, vira sua raça aviltada pela escumalha invasora de Portugal. Afinal, que era, no mundo civilizado, o humilhado Portugal, dominado, à época, por Felipe IV da Espanha? Um país de piratas oficializados, gananciosos e sem consciência, que infestavam o Brasil, preavam os bugres, surravam e vendiam os negros, sempre de olhos fitos e cobiçosos no açúcar, nos diamantes, no pau-de-tinta, nas índias púberes”.
E Matias de Albuquerque? O que fez quando aqui chegou em 1629? “Patuscadas, comezainas, orgias com vinhaças. Sua corte dava abrigo a nobres traficantes de escravos, peralvilhos, padres e turinas. Albuquerque era um [...] egoísta, que [...] não cumpria a palavra quando estavam em jogo seus interesses particulares, [...] abandonando à míngua as mulheres e crianças das cidades [...] que perdia para os holandeses, permitindo que a escória saqueasse os armazens e ateasse fogo a tudo que não pudesse ser carregado”.
De acordo com Avelar, eis o que Calabar mandou dizer a Matias de Albuquerque: “Dois anos de fidelidade e sacrifícios. E que recebi eu? Ingratidões, humilhações, prejuízos incalculáveis. Abandonei em Porto Calvo os meus negócios para acompanhar a bandeira luso-filipina no seu sonho de conquista peçonhenta dentro do meu próprio país. Mas, pelo que tenho presenciado e sofrido com os meus camaradas brasilienses, achei mais digno aliciar-me aos holandeses, mais civilizados, mais tolerantes, mais instruídos e menos cruéis. Sou o primeiro que se revolta contra o banditismo dos portugueses. [...] Escolho patrioticamente, entre dois conquistadores, o mais humano e culto. [...] Que direito têm Espanha ou Portugal sobre nós? Somos tratados como bichos. Os lusos [...] só querem explorar [...] o Brasil e fazer barriga nas indiazinhas. Não sou um traidor. Sou um homem de consciência e, por isso, um rebelde”.
Domingos Fernandes Calabar – o “traidor” da falsa História do Brasil – nasceu em Porto Calvo, Alagoas, em 1610. Informado antes [...], sabia perfeitamente que seu destino era a forca, quando, para evitar outras mortes, entregou-se ao inimigo [...].
Acredito que os alagoanos de Porto Calvo, que aprenderam a história contada por portugueses acobertados por padres e cronistas mentirosos, nada sabem sobre seu grande herói. Caso contrário, deveriam, em desagravo de sua memória, erigir-lhe, na praça principal, uma estátua que fosse, no mínimo, um palmo mais alta do que a cruz da igreja matriz...

HISTÓRIA DE ALAGOAS


Calabar - herói ou traidor?


Começa então a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter sido traidor e que ele próprio nunca se considerou assim. Por: Jair Barbosa

Chamava-se Domingos Fernandes Calabar, um mulato, filho de dona Ângela Álvares, nascido na Vila de Porto Calvo. Estudado, rico e com espírito de liderança, avançou no seu tempo. Mesmo assim, ainda era discriminado pelos brancos portugueses e brasileiros, por sua condição de mestiço e filho bastardo. Possuía engenhos de açúcar, muito dinheiro, estudou em Olinda, era culto e muito bem informado.

Quando da Invasão Holandesa a Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos contra esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização muito mais avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o lado dos holandeses.

Começa então a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter sido traidor e que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento, mostrando sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não era uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não foi compreendido, obviamente.

Calabar viveu as experiências mais desastrosas daquelas épocas. Acompanhava os holandeses em suas batalhas, destruindo engenhos e fazendas. Sabia que tudo aquilo que acontecia era porque seus conterrâneos não aceitavam a proposta de colonização dos invasores, optando mesmo pelos portugueses, já que eram descendentes destes.

Por conhecer Recife e seu avançado projeto de desenvolvimento econômico-cultural, queria que tudo aquilo fosse implantado em Porto Calvo e Penedo. Não conseguiu. Seus conterrâneos venceram. Mas ele deixou bem patente em sua carta, que preferia derramar seu sangue por uma causa justa, que ele abraçou do que viver sob o domínio mesquinho dos portugueses, que só queriam mesmo explorar os brasileiros. Foi morto e esquartejado, com partes do seu corpo distribuídas pelas ruas da Vila de Porto Calvo. Mas, os holandeses conseguiram recuperar tudo e fizeram um enterro com honras militares. Passou para a História da Holanda, como herói. A História do Brasil, o considera um traidor. Mas era escrita pelos portugueses.

Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na História de Alagoas, a Igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610 (existe no alto de sua fachada, essa data), com seu altar-mor em madeira, originalíssimo e as imagens da sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a mais antiga da freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca, onde dizem que ele foi enforcado, além de um clube, um bar e restaurante que levam o seu nome. Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória desse conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A esperança é de que um dia, ele seja finalmente considero Herói Nacional, como foi Zumbi, outro que os portugueses também consideravam como traidor.

7 de Setembro

Independência ou Morte:
Uma imagem 66 anos depois

A primeira aproximação pictográfica que temos com a Independência do Brasil acontece como deve ser, nos livros de escola, quando vemos a pintura de Pedro Américo, “O Grito do Ipiranga”, elaborada em 1888, já no final do Segundo Reinado.
D. Pedro II foi educado pelos melhores professores brasileiros e era estimulado por seu tutor, José Bonifácio de Andrada e Silva, a travar contato com as artes e os artistas de seu tempo. A isto somado o fato da força do cultivo do café na lavoura brasileira, o Segundo Reinado no Brasil foi bastante próspero e trouxe muitos avanços em arte e cultura.
D. Pedro II foi o maior incentivador da cultura e da arte na história do Brasil. Pedro Américo, subvencionado pelo Império, estudou na Europa e, a pedido do Imperador, pintou várias obras. Destaque para “O Grito do Ipiranga”, de 1888.
O fato de o quadro datar de 66 anos após os eventos protagonizados pelo pai do Imperador, D. Pedro I, não deve toldar o nosso raciocínio.
Antecedentes
A Independência foi fermentada num longo processo. Napoleão Bonaparte liderava a Revolução Burguesa na Europa, num tempo em que Portugal era refém econômico da grande potência da época, a Inglaterra. Com o avanço inexorável de tropas napoleônicas a Portugal, a Inglaterra enviou tropas e navios, tanto para combater Napoleão quanto para escoltar a Família Real para o Brasil em 1808.
Muitos historiadores enfatizam o momento da transferência da Família real para o Brasil como o marco do início de todo o processo de Independência em relação a Portugal. Alguns preferem a expressão “emancipação política”, dada a dependência crônica em relação ao grande capital estrangeiro. Naquela época, Inglaterra. Hoje, EUA.



No Brasil D. João VI começa a esboçar o arcabouço de uma Nação Soberana, com um Banco próprio, o Banco do Brasil, fundado no momento de sua chegada, 1808, a assinatura de Tratados de Comércio com as Nações Amigas, etc. No Congresso de Viena, em 1815, ocorre a Elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves, com o rei D. João VI residindo aqui. O Brasil, formalmente, não era mais uma Colônia, mas um Reino Unido. Em torno deste tema gira todo o processo de Independência em relação a Portugal.
As cortes, comandadas pela burguesia portuguesa, eram compostas por homens levados ao poder no processo conhecido como Revolução do Porto: afirmavam a autonomia política de Portugal em relação à Inglaterra mas desejavam avidamente levar novamente o Brasil ao estatuto de Colônia.
O movimento de ruptura com as cortes em Portugal já estava fermentando na mente de D. João VI quando foi forçado a voltar para lá em 1821 após a deposição dos ingleses pelas cortes de Lisboa na Revolução do Porto. Percebendo os ânimos daqueles que começavam a orgulhar-se em chamar-se de BRASILEIROS deixou D. Pedro como Príncipe Regente e recomendou: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”.
José Bonifácio de Andrada e Silva
Em dezembro de 1821 chega ao Rio de Janeiro uma ordem das cortes a D. Pedro. Deveria ele abolir a regência e regressar imediatamente a Portugal. Resignado, começa a fazer os preparativos para o regresso quando a onda de indignação dos brasileiros se faz notória. José Bonifácio de Andrada e Silva, na condição de membro destacado do governo provisório de São Paulo, envia uma carta a D. Pedro. Nela criticava duramente a decisão das Cortes de Lisboa e chamava a sua atenção para o importante papel reservado ao príncipe nesse momento de crise. Aquela carta foi publicada na Gazeta do Rio de 8 de janeiro de 1822, com grande repercussão. Dez dias depois, chegou ao Rio uma comitiva paulista, integrada por José Bonifácio, para entregar ao príncipe a representação paulista. Nesse mesmo dia, D. Pedro nomeou José Bonifácio ministro do Reino e dos Estrangeiros, cargo que este resolveu aceitar depois da insistência do próprio príncipe. Essa nomeação tinha um forte significado simbólico: pela primeira vez o cargo era ocupado por um brasileiro.
Empossado no cargo de ministro do Reino e de Estrangeiros, em janeiro de 1822, Bonifácio logo conquistou, para a causa emancipadora, os representantes da Áustria e da Inglaterra. Além disso, ordenou ao Chanceler-Mor (cargo que corresponde, hoje, ao de ministro da Justiça) que não publicasse lei alguma, vinda de Portugal, sem primeiro submetê-la à a apreciação do príncipe; nomeou um cônsul brasileiro para Londres, declarando, ao Gabinete inglês, que só tal funcionário poderia, então, liberar navios que se destinassem ao Brasil; enviou emissários às Províncias do norte, a fim de congregá-los para a causa da independência, avisando que teriam que se sujeitar à regência de D. Pedro e não às ordens que recebessem de Lisboa.
As Províncias do norte estavam ao lado das Cortes portuguesas e executando o decreto 124, de 29 de setembro de 1821; principalmente, no Maranhão, o que fez com que José Bonifácio, em ofício à Junta de Governo daquela Província, dissesse, ironicamente, que não era de se esperar que o Maranhão tivesse "a aparente e fastigiosa idéia de ser considerada província daquele reino (Portugal)". O Brasil, àquela altura dos acontecimentos, não podia continuar fragmentado e José Bonifácio estava enfrentando a tarefa hercúlea de reunir as Províncias, unindo o país em torno de uma idéia política, que era a monarquia constitucional parlamentar. No dizer de Tito Lívio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira, “sob esse ponto de vista, ele é, legitimamente, o campeão da unidade do Brasil”.
Sempre ativo, aliciou conspiradores em Pernambuco, no Maranhão, no Rio Grande do Norte, na Bahia e no Pará, para que se rebelassem, na hora exata, contra a metrópole que o ludibriara, traindo o acordo do Reino Unido de Portugal e do Brasil; em junho de 1822, reorganizou o erário, por intermédio de seu irmão, Martim Francisco, e, em julho, formou uma nova Armada, contratando, para a obra de construção da Marinha de Guerra, o marujo e aventureiro lorde Cochrane. Importante ainda a presença de Gonçalves Ledo, que angariou os fundos necessários para fortalecer a Armada.
Levou D. Pedro a conquistar a simpatia das populações de Minas e de São Paulo, forçando-o a viajar, pois, dizia ele, “o Brasil não é o Rio de Janeiro”. Quando os decretos vindos de Portugal anulavam, sumariamente, todos os atos da regência, ele, habilmente aliado a D. Leopoldina, escreve a D. Pedro, jurando que, de Portugal, o humilham: “De Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores. Venha V.A. Real o quanto antes e decida-se; porque irresoluções e medidas de água morna, à vista desse inimigo que não nos poupa, para nada servem – e um momento perdido é uma desgraça”. Com isso, instigava o príncipe a se rebelar, combatendo as suas hesitações e desânimos.
Hoje estão disponíveis – inclusive na Internet – os documentos comprobatórios de que os acontecimentos de 7 de setembro foram premeditados e conduzidos por José Bonifácio.
O 7 de Setembro em documentos
Em fins de agosto, a Maçonaria no Brasil se organizava e enviava emissários como Antônio de Menezes Vasconcellos Drummond que, chegando de Pernambuco para onde fora comissionado por José Bonifácio, traz informações e cartas inquietantes. As Cortes em Lisboa chamando o Príncipe de “rapazinho”, ordenam seu imediato regresso e ainda o aprisionamento de Bonifácio.
Encontra-se no magistério muitos professores que preferem minimizar (ou mesmo ridicularizar) os fatos que tiveram lugar às margens do Ipiranga naquela data. Não me conto entre estes. Quem dera os governantes de hoje tivessem a mesma coragem!
A documentação comprobatória é muito extensa e está à disposição do pesquisador. À falta de maiores habilidades ou mesmo confiança no método chamado de “viagens astrais”, atenho-me à documentação. Cito aqui, a título de exemplo, a carta do Padre Belchior, de 1896, mencionada por José Castellani em sua página e que diz, em seus pontos principais, o seguinte:

“O príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro. (...) D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e deixou-os na relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, abotoando-se e compondo a fardeta – pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho do Ipiranga, agoniado por uma disenteria, com dores, que apanhara em Santos – virou-se para mim e disse:
_ E agora, padre Belchior?
E eu respondi prontamente:
_ Se V.A. não se faz rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho, senão a independência e a separação.
D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos nossos animais, que se achavam à beira da estrada. De repente estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me:
_ Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me, com desprezo, de rapazinho e brasileiro. Pois verão agora o quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações: nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal!
(...) E arrancando do chapéu o laço azul e branco, decretado pelas Cortes, como símbolo na nação portuguesa, atirou-o ao chão, dizendo:
_ Laço fora, soldados! Viva a independência, a liberdade, a separação do Brasil.
(...) O príncipe desembainhou a espada, no que foi acompanhado pelos militares; os paisanos tiraram os chapéus. E D. Pedro disse:
_ Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil.
(...) Firmou-se nos arreios, esporeou sua bela besta baia e galopou, seguido de seu séquito, em direção a São Paulo, onde foi hospedado pelo brigadeiro Jordão, capitão Antônio da Silva Prado e outros, que fizeram milagres para contentar o príncipe.
Mal apeara da besta, D. Pedro ordenou ao seu ajudante de ordens que fosse às pressas ao ourives Lessa e mandasse fazer um dístico em ouro, com as palavras “Independência ou Morte”, para ser colocado no braço, por um laço de fita verde e amarela. E com ele apareceu no espetáculo, onde foi chamado o rei do Brasil, pelo meu querido amigo alferes Aquino e pelo padre Ildefonso (...)”
D. Pedro e a Maçonaria
A ata da nona sessão do Grande Oriente do Brasil – Assembléia Geral – realizada no 13º dia do 5º mês maçônico do Ano da Verdadeira Luz 5822 (2 de agosto de 1822), consta ter o Grão-Mestre da Ordem, conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, proposto a iniciação de Sua Alteza D. Pedro de Alcântara. E que, “aceita a proposta com unânime aplauso, e aprovada por aclamação geral, foi imediata e convenientemente comunicada ao mesmo proposto, que se dignando aceitá-la, compareceu logo na mesma sessão e sendo também logo iniciado no primeiro grau na forma regular e prescrita na liturgia, prestou o juramento da Ordem e adotou o nome heróico de Guatimozin”. Na décima sessão, realizada a 5 de agosto, Guatimozin recebeu o grau de Mestre Maçom.
A ata da 14ª sessão – Assembléia Geral – do Grande Oriente Brasílico, fundado a 17 de junho de 1822, fechado a 25 de outubro do mesmo ano, pelo seu Grão-Mestre, D. Pedro I, e reinstalado como Grande Oriente do Brasil, em 1831, foi publicada, junto com outras, no Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil, Nº 10, de outubro de 1874, no Ano III da publicação (criada em 1872).
Daquela ata, consta que a Assembléia decidiu ser imperiosa a proclamação da independência e da realeza constitucional, na pessoa de D. Pedro. Mostra, também, que o dia da sessão, 20º dia do 6º mês maçônico do Ano da Verdadeira Luz de 5822, era o dia 9 de setembro. Isso porque o Grande Oriente utilizava, na época, um calendário equinocial, muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar. Desta maneira, o 6º mês maçônico tinha início a 21 de agosto e o seu 20º dia era, portanto, 9 de setembro, como situa o Boletim de 1874.
Portanto, não é procedente supor que a data da Assembléia tenha sido 20 de agosto (dia do Maçom no Brasil), tampouco se deve minimizar o fato de que a Maçonaria atuava viva e ativamente na direção da independência, particularmente através do Grão Mestre José Bonifácio e do Primeiro Vigilante, Ledo Ivo.
O fato existiu – temos a ata – e é digno de ser lembrado e comemorado por todos os maçons, mesmo porque não era possível, no dia 9, os obreiros terem conhecimento dos fatos do dia 7, dados os escassos recursos de comunicação da época. Mas não a ponto de falsear a verdade histórica, quer por ufanismo, quer por desconhecimento.
Hoje
A tarefa é monumental. Cumpre romper os grilhões que nos atam aos Estados Unidos da América. O presidente Lula já mencionou, ao chamar o presidente de lá de “companheiro Bush”, que considera aquele país “um parceiro imprescindível para o Brasil”. Por seus atos e palavras percebemos sua falta de disposição – assim como de toda a alta burguesia brasileira – no sentido de encaminhar a Independência de que precisamos. Que a reflexão em torno dos atos heróicos de nossos ancestrais possa inspirar nossos contemporâneos.
Cultura Brasileira