Calabar - herói ou traidor?
Começa então a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter sido traidor e que ele próprio nunca se considerou assim. Por: Jair Barbosa
Chamava-se Domingos Fernandes Calabar, um mulato, filho de dona Ângela Álvares, nascido na Vila de Porto Calvo. Estudado, rico e com espírito de liderança, avançou no seu tempo. Mesmo assim, ainda era discriminado pelos brancos portugueses e brasileiros, por sua condição de mestiço e filho bastardo. Possuía engenhos de açúcar, muito dinheiro, estudou em Olinda, era culto e muito bem informado.
Quando da Invasão Holandesa a Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos contra esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização muito mais avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o lado dos holandeses.
Começa então a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter sido traidor e que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento, mostrando sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não era uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não foi compreendido, obviamente.
Calabar viveu as experiências mais desastrosas daquelas épocas. Acompanhava os holandeses em suas batalhas, destruindo engenhos e fazendas. Sabia que tudo aquilo que acontecia era porque seus conterrâneos não aceitavam a proposta de colonização dos invasores, optando mesmo pelos portugueses, já que eram descendentes destes.
Por conhecer Recife e seu avançado projeto de desenvolvimento econômico-cultural, queria que tudo aquilo fosse implantado em Porto Calvo e Penedo. Não conseguiu. Seus conterrâneos venceram. Mas ele deixou bem patente em sua carta, que preferia derramar seu sangue por uma causa justa, que ele abraçou do que viver sob o domínio mesquinho dos portugueses, que só queriam mesmo explorar os brasileiros. Foi morto e esquartejado, com partes do seu corpo distribuídas pelas ruas da Vila de Porto Calvo. Mas, os holandeses conseguiram recuperar tudo e fizeram um enterro com honras militares. Passou para a História da Holanda, como herói. A História do Brasil, o considera um traidor. Mas era escrita pelos portugueses.
Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na História de Alagoas, a Igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610 (existe no alto de sua fachada, essa data), com seu altar-mor em madeira, originalíssimo e as imagens da sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a mais antiga da freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca, onde dizem que ele foi enforcado, além de um clube, um bar e restaurante que levam o seu nome. Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória desse conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A esperança é de que um dia, ele seja finalmente considero Herói Nacional, como foi Zumbi, outro que os portugueses também consideravam como traidor.
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