América Latina dá novo significado aos Dez mandamentos
Dez Mandamentos para a América Latina.
Não Honrar o pai. Roubar e predicar. Matar ou morrer.
BBC Mundo apresenta dez histórias para repensar as leis de Deus.
A idéia de fazer um especial sobre os dez mandamentos e América Latina surgiu no Egito, a terra onde segundo as antigas escrituras começou o êxodo judeu até a Terra Prometida, mas até aí chegam as coincidências com o Antigo Testamento.
Logo após filmar a subida de turistas e peregrinos ao Monte Sinai, lugar onde segundo a Bíblia, Moisés recebeu os dez mandamentos do mesmo Deus, uma equipe de BBC Mundo entrevistou aos ocasionais latinos americanos e como parte do jogo habitual de perguntas e respostas surgiu o interrogante sobre qual mandamento era mais necessário nos países de que provinham.
Assim nasceu a idéia de buscar dez histórias latino americanas que pudesse fazer refletir nossos leitores sobre cada um desses mandamentos e analisar a relevância deste decálogo, que como disse a BBC Mundo, o historiador venezuelano Elias Pino Iturrieta, “é sem temor a exagerar, o único código que tem permanecido atual desde sua promulgação.
"Nem Licurgo, nem Solón, nem Montesquieu, nem Napoleón tem tido a sorte de Moisés. E a explicação é muito simples: em todos os casos anteriores, os códigos são humanos, sujeitos a uma realidade imediata. No caso da lei mosaica, foi escrita por Deus, por isso, como certeza é um assunto de fé”, assegurou o diretor de estudos históricos da Universidad Católica Andrés Bello.
Para outros, como o filósofo brasileiro Renato Janine Ribeiro, alguns dos mandamentos tem sido incorporado à vida laica e outros, mais religiosos como o de Amar a Deus sobre todas as coisas, caducaram, mas o padre jesuíta Carlos Novoa crer justamente que mandamentos como o primeiro seguem mais vigente que nunca.
Quais são os Deuses de Hoje?
O mundo está idealizando o poder do dinheiro, e o primeiro mandamento não está recordando “no Senhor, Deus uno”. Vivemos dramas tremendos que estão pisoteando este primeiro mandamento. Que acham da invasão do Iraque? Isto é idealizar o poder das multinacionais, do petróleo, das fábricas de armas. E que acham dos derivados financeiros de Wall Street?, respondeu a BBC Mundo este doutor em Ética Teológica da Universidad Javeriana de Bogotá.
Cores positivas e negativas
“Um dos maiores problemas que temos com os mandamentos na atualidade é que expressam uma moralidade do que não se pode fazer, uma moralidade que é negativa. Do meu ponto de vista a moralidade tem sentido quando é positiva. Que devo fazer para ser um ser moral? Disse a BBC Mundo o filósofo Ribeiro, professor titular da cátedra de Ética da Universidad de San Pablo, USP – SP.
Porém o rabino Shai Froindlij, que trabalha com a comunidade israelita uruguaia, crer que a mensagem deste decálogo é positivo e recorre a uma canção chamada “Color esperanza”, do cantor compositor argentino Diego Torres, para explicar seu ponto de vista: “Fazem quatro ou cinco anos se escutava muito essa canção e eu me perguntei qual é a cor da esperança. Minha resposta é que são os dez mandamentos porque começa com fé em Deus e terminam com a relação entre um e seu próximo e estas são as cores que temos que levar conosco todos os dias”.
A relevância deste decálogo não é só proclamada por judeus e católicos. Como explicou a BBC Mundo Carlos Sánchez, coordenador do Centro Islâmico de Colômbia, "Os dez mandamentos estão incluídos dentro do sagrado Corão (...) já que é uma forma de vida que todos os profetas foram trazendo. Um mulçumano não pode dizer: 'Creio no que diz este profeta e não no que diz outro'".
Longe das três religiões, o sociólogo marxista cubano Aurélio Alonso brindou a BBC Mundo sua própria interpretação: "Me imagino que em algum momento Moisés se apercebeu que tinha que por uma ordem, subiu ao Monte Sinai e buscou una máquina de escrever e apareceu com o decálogo, uma norma jurídica, política e ética".
Para este especialista em temas religiosos do Partido Comunista Cubano, o que fez Moisés com estas leis foi criar a nação hebréia, mas "o mais inteligente nesse momento foi dizer que ele não era o criador do decálogo senão a divindade, e o fez porque é o povo escolhido, criando assim o espírito da transcendência".
Transcendência que chega até nossos dias, como conclui o historiador venezuelano Pino Iturrieta, para quem os mandamentos se tem convertido pouco a pouco em uma referência: "Seguramente a gente nem sequer os sabe de memória. Se os aprendeu na infância quando foram a fazer a comunhão, mas lhes ficou a idéia do lícito ou do ilícito. São coisas que se vão ficando. A ortodoxia não se aplica à tinturaria como as camisas quando um se as troca".
Uma viagem
As histórias recolhidas por BBC Mundo o levarão do Monte Sinai para os consultórios dos cirurgiões plásticos em Miami, onde as pessoas desejam o nariz, as nádegas e os seios dos próximos.
Conhecerá a história de um espiritista venezuelano que não pode deixar de crer em Deus; uma jovem argentina que não quer honrar a seu pai; um adolescente colombiano que como mitômano não pode nem quer deixar de mentir e um soldado salvadorenho que teve que eleger entre matar ou morrer no Iraque.
Na Nicarágua lerá sobre a utilização do nome de Deus por parte de um governo que surgiu como uma guerrilha de inspiração marxista e no México saberá que pensa o ladrão de bancos mais famoso do país do mandamento de não roubarás, depois de torna-se pastor evangélico.
No Equador assistirá à eleição de uma rainha de beleza indígena para analisar como um concurso de beleza desta natureza evita a concupiscência da carne; viajará ao Brasil para inteirar-se que muitos dos fazendeiros que se beneficiam do trabalho escravo são cristãos praticantes e visitará no Paraguai uma comunidade menonita onde o isolamento é a arma contra as tentações.
Porém ademais das histórias, o convite está servido para que os leitores compartam o mandamento que creiam necessário para o lugar onde vivem e sua opinião sobre qual mandamento é mais difícil de cumprir neste amanhecer do século XXI.
Uma lista
Devido a que existam diferentes diferencias na formulação de alguns mandamentos tanto nos livros do Antigo Testamento (Êxodo e Deuteronômio) como na reinterpretação que logo se produz no Novo Testamento com a aparição de Cristo, BBC Mundo elegeu como critério geral os dez mandamentos sintetizados pelo catecismo católico, assim como a iconografia cristã.
Esta eleição não implica nenhum juízo de valor sobre os textos bíblicos nem as religiões monoteístas, senão que está baseada no feito de que os católicos são maioria na América Latina e a educação católica é a mais divulgada nesta região.
Por isso, é mais factível que os leitores, ainda que não sendo crentes, reconheçam esta divisão:
I)Amarás a Deus sobre todas as coisas;
II)Não tomarás o Nome de Deus em vão;
III)Santificarás as festas em nome de Deus;
IV)Honrarás a teu pai e a tua mãe;
V)Não matarás;
VI)Não cometerás atos impuros;
VII)Não roubarás;
VIII)Não darás falso testemunho nem mentirás;
IX)Não consentirás pensamentos nem desejos impuros;
X)Não desejarás os bens alheios.
II)Não tomarás o Nome de Deus em vão;
III)Santificarás as festas em nome de Deus;
IV)Honrarás a teu pai e a tua mãe;
V)Não matarás;
VI)Não cometerás atos impuros;
VII)Não roubarás;
VIII)Não darás falso testemunho nem mentirás;
IX)Não consentirás pensamentos nem desejos impuros;
X)Não desejarás os bens alheios.
As explicações, aristas e interpretações modernas destes textos antigos também tem sido extraídas do catecismo católico.
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