quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Nos Bastidores do Mistério

Muito já se escreveu sobre a emocionante epopéia das lutas da Maçonaria contra o Feudalismo e a Inquisição, ou seja, contra o absolutismo ou totalitarismo político e religioso, em prol da libertação dos povos, como certamente jamais se escreveu em qualquer idioma. Quem a lê compreende melhor o importante papel que a Maçonaria representou na história da evolução humana, principalmente na Itália, França, Alemanha, Rússia, Portugal, Espanha, Inglaterra, Turquia, Cuba, México, Brasil, etc.
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Ante a memória dos gigantes da Maçonaria, que, desafiando as chamas da Inquisição e os punhais dos esbirros, prepararam a queda de instituições odiosas e anacrônicas e o advento de melhores condições de vida para a humanidade, hoje desolado, pergunto: "Mas, que resta hoje da Maçonaria, essa poderosa instituição que, segundo os historiadores, derrubou Bastilhas seculares e reergueu de sob as ruínas destas os povos e os homens para uma nova existência mais luminosa e mais digna? Morreu, desapareceu da História, depois de ter completado a sua missão redentora? Não haverá hoje no mundo mais tirania a combater nem mais miséria a profligar?"
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Uma análise imparcial e serena da Maçonaria no Brasil leva-nos à triste, dolorosa e decepcionante conclusão de que, depois de ter feito a Abolição da escravatura, a Independência e a República, sucedeu à Maçonaria, cair num sono repentino e tumular, e, até hoje, que o saibamos, não fez mais nada...
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Expressão genuína da classe média, em seu desenvolvimento, pelo seu crescente poder, de princípio, e, logo, pela sua decadência, a Maçonaria representa, de certo modo, o desenvolvimento, o poder e a decadência moral e intelectual da burguesia. Através do século 19, o Grande Oriente havia reunido em seu seio os espíritos mais distintos, os corações mais ardentes, as vontades mais altivas, os caracteres mais audazes, e tinha constituído uma organização ativa, poderosa e realmente benfeitora. Era a encarnação enérgica e a realização humanitária dos altos ideais do século 18. Todos esses grandes princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, Razão e Justiça humanas, elaborados, primeiro, pela filosofia daquele século, tinham-se, depois, convertido, no seio da Maçonaria, em dogmas práticos, e, à maneira de bases de uma moral e de uma política novas, haviam-se tornado a alma de uma empresa gigantesca de demolição e de reconstrução.
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Os atores principais da revolução que, no Brasil e no mundo, derrubou a Escravatura, a Inquisição, o Feudalismo e a Monarquia e instaurou a República, foram todos eles maçons, que fizeram eclodir tal revolução com o apoio de amigos e irmãos, cooperadores decididos e poderosos. Hoje, porém, que resta dessa grande e gloriosa colméia de abelhas de um mundo novo, que o Grande Oriente se orgulhou, com justo motivo, de ser? Nada, ou pouco menos. Com os golpes fascistas de 1935 e 1937, interrompeu-se a sua missão redentora, visto que, tendo-se tornado, na maior parte do país, servidora ou, pelo menos, acatadora do Estado Novo e da correspondente situação fascista, que dominava o mundo, perdeu toda sua razão de ser. Homens com mentalidade totalitária, como os falecidos grão-mestres Moreira Guimarães e Rodrigues Neves desviaram a instituição dos seus rumos libertários, pondo-a ao serviço dos seus pontos-de-vista particulares e reacionários.
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E hoje, sem um objetivo, como teve no passado, quando lutava em prol de alguma coisa ideal e nova (a Abolição, a Independência, a República), a Maçonaria conserva-se por aí, estacionária, acéfala, sediça e impotente, puxada à arreata por uns pobres-diabos, infantis e analfabetos, com fumaças de sabichonice, grávidos de presunção, hidrópicos de água-benta e fedendo a reacionarismo. A única preocupação da Maçonaria no Brasil de hoje parece ser a de substituir-se à Igreja Católica. Um tira-te daí, que eu quero me colocar lá! Outros querem se perpetuar no cargo e admirem-se! Muitos acham que não há ninguém capaz de representar-nos senão ELESSS!
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Sociedades secretas houve sempre, desde que no mundo apareceram o primeiro senhor e o primeiro escravo, e existirão sempre, enquanto o homem for lobo do homem. Podem mudar de nome, de ritos e de métodos, acompanhando a evolução das sociedades, mas no fundo existirão sempre, como defensoras do indivíduo.
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No Brasil, antes de fazer o seu testamento e ceder o lugar a outra instituição porventura mais preparada para lhe suceder como dínamo do progresso social, a atual Maçonaria, que no Brasil conta com cerca de 700 lojas — infelizmente, em sua maioria "adormecidas" ou quase — espalhadas por todo o território, poderá ainda realizar tarefas eminentemente úteis, em prol do estabelecimento dum mundo melhor. Apontemos algumas delas:
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1. combate ao analfabetismo, vergonha nacional,
2. criação de cooperativas, como o meio mais eficiente de ensinar os produtores a administrar, com dispensa do Estado e dos intermediários e com real vantagem sobre um e outros, a produção e o consumo.
3. luta em prol da reforma agrária, não no sentido da divisão da terra, que só servirá para criar novos proprietários, mas no da coletivização da terra, em forma cooperativista.
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Para a realização deste a um tempo simples e grandioso programa, mister se torna a existência de homens com mentalidade que lhes permitam concebê-lo e levá-lo a cabo. Infelizmente, porém, a maioria dos homens que enchem as Lojas no Brasil é constituída pelo pior que existe na sociedade, quanto ao seu valor intelectual e até mesmo, em muitos casos, moral. Há, sem dúvida, no seio da Maçonaria, muitos idealistas sinceros, mas estes são asfixiados pelos oportunistas. O critério que preside ao recrutamento de novos maçons limita-se a verificar se os candidatos possuem os "metais" (dinheiro) necessários ao pagamento da cerimônia da iniciação, sem esquecer as despesas com o respectivo banquete, pois saciar a fome do estômago é hoje, para a maioria dos maçons no Brasil, uma preocupação que sobreleva a de satisfazer a fome, que raros sentem, do espírito. Daí estarem as Lojas, em sua maior parte, dominadas por analfabetos, reacionários, homens de mente fossilizada e por elementos indesejáveis de toda a espécie, inteiramente inadaptáveis e até contrários à missão histórica e aos princípios da Maçonaria, que entram na instituição com o único objetivo de arranjarem pingues empregos, alargarem a esfera dos seus negócios ou obterem votos para, eleitos deputados, se converterem nos piores demagogos. À qualidade prefere-se hoje, infelizmente, no seio da Maçonaria, a quantidade, inimiga daquela. E este é o grande obstáculo à realização da missão histórica da tradicional instituição dos pedreiros-livres.
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Precisamos rejuvenescer a instituição a que pertencemos, pondo-a ao serviço dos grandes, dos generosos ideais do nosso tempo.

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