sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Participação da Maçonaria e dos Maçons na Proclamação da República no Brasil

Antes da Proclamação da República no Brasil e até mesmo antes da própria Independência do País houveram quatro tentativas malogradas de movimentos republicanos regionais que contaram com a presença e participação dos maçons brasileiros.
A primeira tentativa foi o movimento apelidado nos manuais de história do Brasil de Inconfidência Mineira.
O primeiro movimento de caráter autonomista surgido na cidade de Vila Rica, sede da Capitania de Minas Gerais, em 1789, teve como decorrência o descontentamento gerado pelo abuso tributário com que o reino português, já em pleno processo de decadência, explorava as riquezas minerais da rica capitania.
Um grupo de intelectuais nessa capitania acalentou sonhos de autonomia republicana mirando-se no exemplo da iniciante Revolução Francesa e, principalmente, da independência dos Estados Unidos da América do Norte.
A segunda tentativa foi a Revolução Pernambucana de 1817, um movimento revolucionário, de tendência fortemente nacionalista que visava implantar a república na Província de Pernambuco, liderada pelo maçom Domingos José Martins.
Domingos era um comerciante estabelecido na cidade de Recife, capital da província, e que viajava constantemente ao Reino Unido. Lá, entrou em contacto com os círculos maçônicos e teria sido iniciado em 1812 por Hipólito José da Costa, o Patriarca da Imprensa Brasileira, e por Francisco Miranda.
Os conspiradores chegaram, com apoio popular, a depor o governador da província e instalar um governo em 8 de março de 1817. A reação veio através do Conde dos Arcos, governador da fronteira província da Bahia, que cercou o Recife com 1500 homens. No dia 20 de março, os rebeldes foram derrotados e presos. Domingos e todos os outros chefes revolucionários foram levados para Salvador, responderam a processo sumário e todos executados num total de 43, entre civis e militares, além de três eclesiástico. Entre estes se encontrava o Padre Roma, um maçom ativo e combativo.
O terceiro movimento foi a Confederação do Equador já com o Brasil independente e lutando pela sua unificação. Na Província de Pernambuco, os remanescentes da Revolução de 1817, reagiram contra a prerrogativa do Imperador de escolher livremente o presidente da Província. O líder dessa reação foi Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca, o popular frade carmelita - frei Caneca - maçom, jornalista propagandista dos ideais republicanos, professor de filosofia, retórica e geometria. No seu jornal Tífis Pernambuco proferiu intensa campanha contra o então Imperador D. Pedro I, também maçom, desde a dissolução da Constituinte e a imposição e outorga da Constituição de 1824, a primeira constituição do país independente. A revolução rompeu com o Império recém-implantado, proclamou-se uma república com o nome de Confederação do Equador, alastrou-se para as províncias vizinhas com o apoio das lojas e dos maçons da região.
O quarto e último movimento republicano regional, iniciado em 1835, como uma revolução autonomista e federalista, teve como seu líder máximo o liberal maçom Bento Gonçalves da Silva e auto-intitulou-se República Piratini ou República Farroupilha.
As sociedades maçônicas floresciam então. A maçonaria, aliás, contava com muita força. Nela estavam presentes até sacerdotes, e a maioria dos homens influentes da província eram maçons. Entre os maçons ilustres, destacava-se Bento Gonçalves, que organizou diversas lojas na fronteira, e cujo codinome, na maçonaria, era Sucre e também o outro co-líder do movimento Davi Canabarro, assim como os italianos Tito Lívio de Zambeccari e o afamado Giuseppe Garibaldi, iniciado na Loja Abrigo da Virtude da província do Rio Grande do Sul, que utilizou as táticas de guerrilha aprendidas no Novo Mundo na unificação italiana.

Como causas do movimento podem ser citadas: o isolamento da província, descontentamento com o controle alfandegário, o dinheiro da província gaúcha pagava até a dívida com os ingleses, moedas falsas complicavam a economia e o clima de tensão reinante na fronteira.
Muitos dos livros de história insistem na versão de que o nome "farrapos" ou "farroupilhas", dado aos revolucionários gaúchos, teve origem nas roupas que estes vestiam - gastas e esfarrapadas. No entanto, a verdade é bem outra. A denominação é, mesmo, anterior à Revolução Farroupilha, e era utilizada para designar os grupos liberais de idéias exaltadas. Já em 1829 eles se reuniam em sociedades secretas. Uma delas era a Sociedade dos Amigos Unidos, do Rio de Janeiro, cujo objetivo era lutar contra o regime monárquico. Desde então, eram chamados de farroupilhas. Segundo Evaristo da Veiga, o termo havia sido inspirado nos "sans culottes" franceses, os revolucionários mais extremados durante o período da Convenção (1792 a 1795). Os "sans culottes", que literalmente quer dizer sem calção, usavam calças de lã listradas, em oposição ao calção curto adotado pelos mais abastados.

Como já dissemos, a maçonaria brasileira nasceu com o Brasil, e esteve presente em todos os principais acontecimentos históricos e que culminaram no País que hoje vivemos. Diferente não poderia ser a sua participação na Proclamação da República.

"A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas as consequências da Liberdade – Assim iniciava o editorial da Gazeta da Tarde, da edição de 15 de novembro de 1889.

A implantação de um Estado Republicano foi, sem dúvida, o fato histórico mais importante de nosso País e teve como líderes e idealizadores deste movimento, Maçons ilustres que hoje estão nos nossos livros de História, tais como Marechal Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant, Ruy Barbosa, Campos Salles, Quintino Bocayuva, Prudente de Morais, Silva Jardim e outros mais.

A idéia republicana é antiga no Brasil; nós a vemos na Guerra dos Mascates (1710), na Inconfidência Mineira (1788), na Revolução Pernambucana (1817), na Confederação do Equador (1824), na Sabinada (1837) e na Revolução Farroupilha (1835-1845).
Portanto, o Brasil clamava pela República! Era uma questão de Tempo.

O Império Brasileiro estava desgastado e vagarosamente ruía-se. Iniciou a sua queda em 1870, após a Guerra do Paraguai, onde, mesmo o Brasil saindo vitorioso daquela campanha, o Exército, seu principal agente, não foi devidamente valorizado, causando sérios descontentamentos. A igreja, por sua vez queria a liberdade, pois, encontrava-se submetida ao padroado Imperial - O Governo Imperial possuía dois importantes direitos sobre a Igreja: o “padroado” (direito de indicar ao papa os sacerdotes que seriam nomeados para os diversos cargos eclesiásticos) e o “beneplácito”, (as determinações do papa só seriam aplicadas no Brasil depois de aprovadas pelo Imperador).

Mas o fato principal, que fez com que o Império perdesse a sua sustentação, foram as leis antiescravistas, defendidas fervorosamente nas Lojas Maçônicas Brasileiras. Leis como a do Ventre Livre (1871), dos Sexagenários (1885) e finalmente a Lei Áurea (1888).

Atentos a todos estes fatos, a Maçonaria, através de várias Lojas como a Vigilância e Fé, de São Borja – RS, Loja Independência e Regeneração III, ambas de Campinas - SP, aprovaram um manifesto contrário ao advento do Terceiro Reinado e enviaram a todas as Lojas Maçônicas do Brasil, para que tomassem conhecimento e que apoiassem esta causa. Mais uma vez a Maçonaria estava à frente para liderar um Movimento Democrático.

Em 10 de novembro de 1889, em uma reunião na casa do Irmão Maçom Benjamin Constant, onde compareceram os Irmãos Maçons Francisco Glicério e Campos Salles, que decidiram pela queda do Império. Benjamin Constant foi incumbido de persuadir o Marechal Deodoro da Fonseca, já que este era muito afeiçoado ao Imperador. Por fim, Deodoro assumiu o comando do movimento e Proclamou a 15 de Novembro de 1889, a República no Brasil.
Faz-se necessário aqui uma justiça ao Imperador D. Pedro II, um homem culto, ponderado, que contrariando a opinião pública, não lutou pelo trono, pois não queria ver derramado o sangue de brasileiros, demonstrando um alto sentimento altruísta, reconhecendo que para o Brasil este seria o seu novo e melhor destino.

E em resposta dada à mensagem ao Novo Governo diz: “À vista da representação escrita que me foi entregue hoje, às 3 horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir, com toda a minha família, para a Europa, deixando esta Pátria, de nós tão estremecida, à qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranho amor e dedicação, durante mais de meio século em que desempenhei o cargo de chefe de Estado. Ausentando-me, pois, com todas as pessoas da minha família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo os mais ardentes votos por sua grandeza e prosperidade.”
Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889
D. Pedro de Alcântara.

Segue, para o exílio, o Imperador, e com ele, meio século de história do Brasil imperial. Estava proclamada a República e voltavam as esperanças de se construir uma nova nação, dentro dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
No dia 21 de novembro, o jornal República Brasileira, publicava o seguinte trecho em seu editorial:
Comecemos de pensar. Esta República que veio assim, no meio do delírio popular, cercada pela bonança esperançosa da paz; esta República no século XIX que surgiu com a precisão dos fenômenos elétricos, sem desorganizar a vida da família, a vida do comércio e a vida da indústria; esta República americana que trouxe o símbolo da paz, que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e a admiração dos sensatos - esta República é um compromisso de honra e um compromisso de sangue."
A exemplo de todos estes fatos devemos ter os mesmos atos de coragem que tiveram os maçons que hoje fazem parte da história da Humanidade. Temos a obrigação de agir para que, no futuro, sejamos citados pelos maçons que nos sucederem, e que, da mesma forma, os nossos nomes fiquem registrados, como cidadãos atuantes, na memória histórica de cada rua, cada bairro, cada cidade, cada Estado, por toda a Nação.
E que estes maçons do futuro tenham em nós, como tivemos nos maçons do passado, o exemplo motivador da defesa da cidadania como instrumento de busca de uma sociedade mais igualitária, mais justa e fraterna, portanto mais feliz.

Um comentário:

  1. Algumas correções: o português Conde dos Arcos foi um dos principais personagens da repressão à Revolução Pernambucana com suas tropas lusas, mas o grande algoz foi Luís do Rego Barreto, escolhido por D. João VI no Rio de Janeiro para combater o movimento. A maioria dos chefes revolucionários foram executados no Recife mesmo (com requintes de crueldade), e só foram levados para Salvador aqueles primeiros que foram capturados enquanto Pernambuco estava sem governador português (destes, quatro foram fuzilados). Lembrando que àquela altura Pernambuco era a capitania/província mais rica da colônia.

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