segunda-feira, 12 de outubro de 2009

SEJA FEITA A VONTADE DE DEUS


A coisa que mais sabemos, de que temos mais certeza, e a que mais temos dificuldade de aceitar é que tudo está em constante mudança! Se pararmos um pouco nossa correria para observar nossas vidas, verificamos o quanto isso é real: que restou daquele garotinho que éramos ainda ontem? Onde andará agora aquele jovem entusiasmado e ansioso que, vestido de noivo, julgava que sua vida se eternizava em tanta felicidade? Para onde foi aquele inseguro menino que, estômago apertado, enfrentava o primeiro dia de trabalho como quem enfrenta uma catástrofe que nunca irá ter fim? Hoje, olhando para trás, parece que esses “eus” não somos nós; parece que esses momentos não foram reais, mas apenas sonhos que tivemos e dos quais já nos esquecíamos. No entanto sabemos que aquele garotinho, aquele jovem e aquele menino somos nós, e tudo quanto somos hoje se deve a termos sido aquele garotinho, aquele jovem e aquele menino. Se pensarmos um pouco sobre como se nos apresentam essas recordações do ontem, verificaremos que o tempo, para nós se apresenta como uma sucessão de perdas: ao passarmos numa rua, vemos a casa que um dia foi nossa; naquele prédio, a empresa onde um dia trabalhamos; naquela cidade, a lembrança do menino que fomos e dos amigos que tínhamos; até no espelho, a recordação (quase impossível) do corpo e da cara que uma vez tivemos. As razões psicológicas e culturais de percebermos o tempo dessa maneira são várias. Uma razão possível é que aprendemos que ter é mais importante que ser: por isso, não somos jovens, mas temos uma juventude, como se perdêssemos a nós mesmos. Outra possível razão é que em nossa cultura olhamos os processos como se fossem momentos eternos: raramente dizemos estou te amando, mas te amo, como se isso fosse um fato definitivo. E o pior é que tratamos nossas vidas, nossos pais, amigos, cônjuges e filhos como se as relações fossem cristalizadas e nunca pudessem se alterar. Dessa falsa percepção do tempo e da vida é que se origina grande parte de nossos sofrimentos, pois são sentimentos de perda que temos no inexorável processo de mudança. Quando as pessoas e os momentos se constituem objetos que “possuímos” e aos quais nos apegamos, nós sofremos suas perdas como a criança que chora o brinquedo querido que perdeu. Em nossa reflexão, contudo, sentimos que há uma consciência que, acima dos condicionamentos culturais, nos permite perceber que a realidade é diferente: o tempo é um continuum onde os vários momentos possuem uma singularidade apenas ilusória. Na verdade, o filho de um ano, de seis e de dez é percebido como o mesmo filho, total a cada momento, sempre o mesmo, e que é para sempre parte de nós, esteja ou não fisicamente próximo. Hoje, quando digo ao meu filho de 25 anos: “como você era engraçado chupando o dedo do pé”, estou na verdade, vendo aquele homem de 25 anos chupando o dedo do pé, pois é ele e não outro de quem lembro e a quem amo. Também meus pais, meus amigos, as paisagens e as pessoas que encontrei, são parte de mim para sempre e nunca poderei perdê-las, pois elas são eu. A recíproca é totalmente verdadeira. Essa é a verdade e é assim que Deus vê a realidade. Por isso Deus não pode sofrer. Nós, em nossa materialidade, é que temos esse véu de Maya que nos tolda a visão e nos engana. Essa compreensão holística, essa percepção da Unidade de todas as coisas, da realidade ecológica da vida e do universo, está tanto por detrás dos ensinamentos místicos quanto da nova visão de ciência que aparece na física, na medicina, na psicologia, na biologia, etc.
Quando dizemos “seja feita a vontade de Deus”, um sentimento paradoxal nos invade: “tomara que seja” e “que medo que não seja aquela vontade que eu desejo que se faça” (Ah! Esse número dois!). No entanto, se nos calarmos para ouvir, nossa consciência superior nos demonstra que essa vontade é aquela unidade de todas as coisas e que, portanto, quando ela se faz, o sentimento de integração e totalidade que nos preenche é como um bálsamo que refrigera todo nosso ser porque a eternidade nos penetra, as separações desaparecem e tudo e todos nos tornamos um. Eis porque, meus Irmãos, quando as ilusões da falsa realidade vos ameaçarem com sofrimentos e medos, simplesmente entregai-vos à corrente da vida e deixai que vossos corações sussurrem com absoluta confiança: seja feita a vontade de Deus! Amém !

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