O Sete de Setembro de 1822 não “nasceu” nem histórico nem como “data nacional”, marco da Independência do Brasil. Datas, bem como “personagens”, monumentos, interpretações, são construções históricas, obras que se dá ao longo do tempo, muito ou pouco.
Para nós parece tão natural que o Sete de Setembro seja a nossa data maior, o marco da Independência, que é muito difícil imaginarmos uma outra situação diversa. Esse fenômeno não é exclusividade nossa, também ocorreu com o 14 de Julho na França (data da Queda da Bastilha, durante a Revolução Francesa), com o 4 de Julho nos Estados Unidos (data de sua Independência), e com tantos outros países.
A “escolha” de uma data, ou seu reconhecimento como “marco”, não é uma questão “isenta” de interesses, não é um dado objetivo, mas uma peça fundamental na construção da história que se deseja perpetuar.
No caso da Independência do Brasil o processo se deu de modo incerto, errático, construido dia a dia e somente consolidado muitos anos depois. Basta lembrarmos que o monarca que aqui ficou, Dom Pedro, era filho primogênito de Dom João VI e, portanto, herdeiro do trono português, assim, com a morte do rei de Portugal, o Imperador do Brasil teria sob sua coroa novamente os dois reinos (e esta situação somente foi solucionada com a abdicação de D. Pedro I em 1831 para reinvindicar o trono português e tornar-se, lá, Dom Pedro IV).
O processo de independência brasileiro teve alguns momentos chave, independentemente de se tornarem “datas nacionais”: o Dia do Fico, o dia do “Grito”, a Aclamação de Dom Pedro, entre outros, os quais foram tecendo o processo político que consolidou a independência.
Obviamente que a separação política de Portugal somente teve efeito pelo endosso, participação de parte das elites, as quais interessava a independência. Nem foi um processo tocado a revelia ou contra a família real (como no caso das colônias de Espanha nas Américas ou dos EUA), nem foi um processo tocado por um herdeiro rebelde, contra sua família ou contra as elites coloniais. Daí, também, a singularidade de nossa Independência.
Com isso a “história de nossa Independência” deveria atender as necessidades tanto da família real brasileira (mesmo após a abdicação de Dom Pedro I, mantida na figura de seu filho, Pedro II) quanto das elites que apoiaram a separação. Em cada um dos momentos do processo que levou a separação de Portugal uma feição do jogo político se ressaltava: na aclamação, por exemplo, enfatizava-se o reconhecimento, a chancela do “povo” ao monarca Pedro I, o 7 de setembro enfatizava a personalidade do príncipe, sua “decisão pessoal”, seu caráter “heróico”.
Por isso a escolha da data nacional dependia de qual momento seria eleito como o do “nascimento da nação”. Para os que desejavam estabelecer uma monarquia muito mais liberal no Brasil, com poderes bastante limitados ao Imperador, era muito mais desejável que a data nacional fosse a da Aclamação, ou a da Constituição do Império (cuja primeira versão foi vetada por Dom Pedro I pos restringir demais seus poderes). Por outro lado, para Dom Pedro I, depois seu filho, e para os grupos mais próximos à monarquia e mais conservadores o 7 de setembro era muito mais adequado, pois atrelava a independência brasileira a virtude do Imperador.
Não foi sem muito debate, brigas, idas e vindas, que o 7 de setembro se consolidou como data nacional brasileira e isso revela a força que os grupos conservadores assumiram não somente na política imperial brasileira, mas, também, na “construção do estado nacional”, o que implicava, inclusive, na decisão de “como ensinaremos nossa história”.
E foi essa que ficou, se consolidou e desdobrou, deixando marcos comemorativos pelo país todo. E, depois de tantas e tantas décadas, a lembrança de quem nem sempre o Sete de Setembro foi nossa data nacional praticamente se esvaiu, consolidando, finalmente, a figura de Dom Pedro I e os episódios - que dificilmente saberemos como efetivamente foi - ocorridos as margens do riacho Ipiranga na volta do Príncipe Regente ao Rio de Janeiro, após sua visita a São Paulo.
A história do Brasil foi ofuscada…Talvez nunca tenhamos certeza do que é verdadeiro ou falso…Esta é nossa sina, vivermos envoltos por favorecimentos e uma política voltada aos intereses de poucos privilegiados.Começou com a Coroa Portuguesa e permanece com o Presidente Lula, que diz uma coisa e faz outra
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