quarta-feira, 21 de abril de 2010

Construindo meu próprio mito, o verdadeiro Tiradentes

Hoje é dia 21 de abril, feriado nacional, dia de Tiradentes. Na Escolinha da Tia Tetéia me ensinaram que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, morreu por liderar um movimento que se revoltou contra a Coroa Portuguesa, de quem o Brasil era apenas Colônia. Por isso seria o grande mártir da independência do Brasil.

Já no ensino médio a gente começa a descobrir o outro lado da história. Alguns professores compartiham, em off, o que os livros didáticos não trazem. Ou seja, no final da adolescência descobri que Tiradentes não passava de um mito fabricado. Quando entrei na Polícia Militar, depois de adulto e concluído o ensino médio, ouvi a a história do Tiradentes, Patrono da Polícia Militar, mesma ladainha da escolinha da Tia Tetéia. Tudo pela tradição das corporações.

Li ainda a pouco uma matéria do Jáder Rezende, para o jornal Hoje em Dia, através do blog da Renata ASPRA, que nos últimos anos, historiadores trouxeram à tona surpreendentes facetas do inconfidente, “detalhes que não constam nos livros didáticos e que podem contribuir para a desconstrução de um mito”. Particularmente, torço muito para que essas novas descobertas entrem o quanto antes nos livros didáticos e invadam as escolinhas das Tias Tetéias.

A personalidade de Tiradentes

Que Tirandentes não era líder da Inconfidência Mineira e não tinha aquela aparência de Jesus Cristo, já é mais que difundido. As mais recentes publicações sobre a Inconfidência Mineira revelam que o “homem compromissado com idéias revolucionárias e liberais do iluminismo”, era dono de escravos. E não era tão carismático e agradável como se apregoa. Sua fama era de exaltado e mal-humorado, porque não se entendia com as pessoas, era muito nervoso e com certo pendor para a polêmica. Chegou a tentar fazer tráfico de influência, com falsas promessas de trabalho para pessoas que participassem da Inconfidência Mineira.

Tiradentes, um oficial “insubordinado”

Tiradentes era militar do Regimento de Cavalaria Paga, um dos maiores motivos pelo qual é Patrono das Polícias Militares. Seu posto era o de Alferes, o equivalente à Tenente. E, olha que coisa, era um profissional de baixa remuneração, mesmo recebendo mais do que ganha um Tenente da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Tanto que uma carta de Tiradentes reivindicando aumento de salário faz parte do acervo do Museu da PM, que funciona no Batalhão do Bairro Prado, da Polícia Militar de Minas Gerais.

Apesar disso, Tiradentes não era pobre. Ao ser preso acusado de traição, tinha um patrimônio equivalente ao do ouvidor de Vila Rica, Tomás Antônio Gonzaga. É que naquela época o prestígio não era associado à riqueza, mas a títulos de fidalguia.

O Tiradentes “tiro, porrada e bomba”

Como Alferes do Regimento de Cavalaria Paga, Tiradentes desmantelou à quadrilha da Mantiqueira, um grupo de assaltantes que aterrorizava os caminhos das Minas no início da década de 1780. Quatro anos depois foi denunciado pelo padre Domingos Vidal de Barbosa Lage – que veio a se tornar seu colega de Inconfidência – por uso de violência, tirania e arbitrariedade contra um sacerdote moribundo e seu irmão.

Tiradentes pediu para sair

Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira, e por ter perdido a função de comandante da patrulha do Caminho Novo, e ainda inconformado com o baixo salário, Tiradentes abandonou a carreira militar para se dedicar a carreira de empreendedor de obras e dono de moinho.

Construindo meu próprio mito

O mito Tiradentes é muito versátil. De símbolo de grupo de guerrilheiros à Patrono das PM, é pau para toda obra. O Danillo nos propôs o mito que devemos construir para as Polícias Militares. E eu vou construir um mito para mim.
Tiradentes era um Tenente do Regimento de Cavalaria, implacável contra o crime e por vezes cometia excessos. Não era reconhecido pelo Estado e tampouco pela Corporação, recebendo péssimos salários e sendo cangalhado constantemente nas promoções. Fazendo jus à classe que representa, Tiradentes teve filhos com mulheres diferentes: João, com uma mulata e Joaquina, com uma ruiva. Suas reivindicações por melhoria salarial pareciam em vão. Cansado de dar murro em ponta de faca, e mais uma vez vendo que não era valorizado à altura do seu trabalho, solicitou baixa. Foi seguir carreira como empreendedor de obras e dono de moinho, onde conseguiu fazer sua pequena fortuna. Porém, insatisfeito com a Coroa Portuguesa desde a época de Cavalaria, não sossegou enquanto não arrumou plano para atingí-la. Tanto procurou que conseguiu: uma conjuração, com homens não tão corajosos quanto ele, e uma corda no pescoço. Talvez tenha contribuído para sua fatídica morte o fato de ele ter culhão de assumir a responsabilidade pelo movimento, de não ser maçom, não ser oficial de patente mais alta e não ter tanto prestígio quanto os demais. Fim.

Esse é o meu Tiradentes, muito mais próximo da realidade que o barbudinho dos livros didáticos, Patrono das Polícias Militares do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário