Costumo invocar com freqüência a noção de que o Mestre maçom deve considerar-se um eterno Aprendiz, se quer ser digno de ser considerado Mestre.
Também relembro com freqüência que ser maçom é um percurso de auto-aperfeiçoamento, sempre dinâmico, sempre inacabado, sempre em execução. Um dos marcos desse caminho é o maçom, o homem livre e de bons costumes, poder convictamente considerar-se Mestre de si mesmo, capaz de dominar suas paixões, seus vícios, domar seu temperamento, desbastar sua personalidade, no sentido do equilíbrio, da justeza. Enfim, conseguir EFETIVAMENTE nortear sua vida e suas ações e realizações dentro do espaço delimitado por três características indispensáveis para que cada obra humana tenha valia digna desse nome: a Sabedoria, a Força e a Beleza. Que cada nossa decisão, cada realização nossa, consiga simultaneamente ser sabedora, porque justa e certa e equilibrada e prudente, forte, porque durável e susceptível de naturalmente se impor e prosseguir seus objetivos e bela, porque agradável aos demais, não é empresa fácil, se a queremos realizar bem, mas é extremamente gratificante, quando se alcança.
Ser maçom é, portanto, ser sempre Aprendiz, porque em cada momento devemos melhorar, mais bem compreender e fazer, sempre devemos estudar e especular e experimentar, para em cada dia sermos um pouco, um grão que seja, melhores do que o anterior. Mas é também ser Mestre, porque a aprendizagem não é um mero exercício intelectual, é um meio para utilizarmos e dominarmos e integrarmos o que aprendemos, com valia para nós próprios e para os demais, que podem beneficiar do que aprendemos e da transmissão do nosso conhecimento.
Esta dualidade Aprendiz - Mestre é, por natureza, dinâmica. Aprendemos e do que aprendemos somos Mestres e, sendo-o, verificamos que mais temos a aprender, e vemos como, e de novo mais aprendemos, e de mais somos Mestres e assim sucessivamente, numa eterna sucessão do ciclo tese-antítese-síntese que é nova tese. Esta relação entre aprendizagem e utilização do que se aprendeu necessita, porém, de ser equilibrada - de pouco vale aprender, aprender e aprender, se nada se utiliza, se aplica, se usa; não muito vale fazer e refazer e repetir o que um dia se aprendeu, em eterna e rotineira execução, sem perspectivas nem evolução. Por isso, em Maçonaria se preza o equilíbrio e se atende ao valor da dualidade, como fator de progresso, de evolução.
Em bom rigor, o maçom não É aprendiz, não É Mestre. O maçom FAZ-SE Aprendiz e, com isso, TORNA-SE Mestre. Não se compreende efetivamente a natureza da Maçonaria se dela apenas se retém uma imagem estática. A Maçonaria e os seus ensinamentos são essencialmente dinâmicos e é esse dinamismo, essa perpétua evolução, esse incessante movimento intelectual que é indispensável entender, se se quer perceber o que é a Maçonaria. Cada ponto de chegada é um novo ponto de partida. Sempre. Com a especificidade de que cada maçom não tem necessariamente de partir dos SEUS pontos de chegada. Pode beneficiar dos que seus Irmãos obtiveram para, a partir deles, integrar os seus próprios conhecimentos e de tudo beneficiar para prosseguir sua demanda.
É também por isso que a maçonaria orgulhosamente se reclama da Tradição. Da Tradição de seus ancestrais, dos Mestres que antes de nós fizeram suas demandas e chegaram a suas conclusões. Que abriram e aplainaram os caminhos que hoje confortavelmente percorremos sem dificuldade, permitindo que nos aventuremos no desbaste de novos percursos que, se bem trabalharmos, um dia serão rápidas estradas, facilmente atravessadas pelos vindouros até às fronteiras de seus desconhecidos novos percursos. Por isso, para um maçom é natural ir ao passado rever o que aí se descobriu, para integrar com o que hoje está à nossa disposição e poder construir o que amanhã se descobrirá. Por isso, o Passado, o Presente e o Futuro se unem e tocam e associam para mais um pouco se avançar. Por isso, nós, maçons, valorizamos o Passado, a Tradição, os Ritos e os Conhecimentos que herdamos de nossos antecessores, tanto como valorizamos o nosso esforço de Hoje e como aspiramos a que seja valorizado o que procuramos construir para o Futuro. Que um dia será Presente e logo Passado... Dinâmica, não estática...
Os Aprendizes de antanho são para nós Mestres que nos ajudam a aprender e a sermos, por nosso turno, Mestres. Mas também os Mestres Aprendizes de agora mutuamente se influenciam. Por isso, mais do que dizer-se apenas que cada Mestre maçom, sendo-o, é simultaneamente um Aprendiz, pode e deve dizer-se ainda que cada maçom é também e sempre um Aprendiz de alguém e Mestre de algum outro Aprendiz.
Portanto, e resumindo: cada Mestre maçon é simultaneamente Mestre de si próprio e eterno Aprendiz, Aprendiz dos ensinamentos dos seus antecessores e Mestre dos vindouros e ainda Aprendiz de alguém e Mestre de algum outro Aprendiz - porventura também Mestre e, portanto, com as mesmas características...
Uma das coisas que eu gosto na Maçonaria é esta sua simplicidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário