quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As Máscaras Humanas II


Conheço esta máscara melhor do que qualquer outra porque durante uns 36 anos usava-a continuamente. O Subserviente é uma das máscaras mais curiosas, porque apesar deste tipo fazer tudo o que faz devido ao mais puro egoísmo, beneficia sempre outros (poucas máscaras humanas têm esta característica). São pessoas boas que se sentem tão insignificantes que precisam de se sentir úteis e, fruto desta necessidade, acabam por ajudar outros.
O Subserviente é uma pessoa que foi gravemente ferida na infância: humilhada ao ponto de as suas necessidades mais básicas deixarem de ser importantes. Devido a estas feridas profundas, o Subserviente aprende desde muito cedo que só conseguirá sobreviver se não provocar o mínimo distúrbio na vida dos outros e, se possível, fazendo com que todos à sua volta sejam felizes.
O Subserviente tem estampado na testa “abuse de mim”. Mas não se deixe enganar, porque ele é na verdade um predador. Sente-se tão envergonhado que é capaz de tudo para provar que não merece o seu lugar no mundo. São os seus sentimentos de inutilidade e medo que o obrigam a validar-se buscando a aprovação e amor dos outros, fazendo tudo e mais um pouco para que os outros gostem dele e lhe ofereçam um pouco do seu amor. É fácil reconhecer um Subserviente porque tem sempre um sorriso estampado na face, mesmo quando as situações se tornam complicadas. Para conseguir o seu amor ele é capaz de fazer dez vezes mais do que é esperado dele. Se lhe pedir um copo de água ele pergunta se não quer também um bolinho, ou um café, ou um jornal, ou... Começa a ter uma ideia?...
O subserviente dá tudo o que tem e o que não tem também (é capaz de prejudicar alguém para beneficiar outro). O problema é que depois irá cobrar tudo aquilo que fez, sugando a energia daqueles que parece ajudar. E esta ajuda pode chegar a um ponto ridículo em que o Subserviente gasta todo o seu dinheiro a comprar presentes e a pagar jantares aos amigos, tudo com o único objectivo de obter amor e ser visto como útil. Apesar de parecer que está a dar, a verdade é que está a retirar. Porque em cada gesto do Subserviente há um contrato dissimulado: eu dou-te tudo mas tens que me amar!
O Subserviente procura incessantemente a validação dos outros. Todavia, os seus sentimentos profundos de inutilidade impedem-no de ver como ele é de facto importante para a pessoa sobre a qual procura ser validado. Este acto contínuo de querer ser útil aos outros impede o Subserviente de escutar as verdadeiras necessidades das pessoas à sua volta. O seu pensamento repetitivo é simples: “como é que lhe posso agradar hoje?” A sombra do Subserviente é a profunda humilhação de não ser nada sem os outros.
A vergonha do Subserviente é acreditar que é inútil, insignificante, dispensável, carente, indesejado e um excelente praticante de agressividade passiva!
O desafio do Subserviente é começar por reconhecer que tem feito uso do disfarce da dádiva como forma de alimentar a necessidade de se sentir importante e útil. Se se permitir sentir as emoções que reprime em cada gesto caritativo, irá dar-se conta do quão carente se encontra da sua própria caridade. Uma vez que o Subserviente reconheça que não tem a obrigação de agradar a quem quer que seja, começará a dedicar toda a sua energia e dedicação à única pessoa que tem o poder de agradar: a si mesmo.

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