terça-feira, 20 de outubro de 2009

Barack Obama e o Nobel da Paz


Barack Obama acaba de receber o Premio Nobel da Paz. Os analistas de resultados, os “práticos", que governam processos e instituições, os que analisam as plantas pelos frutos não pela semente (ou natureza), pensam, e assim tem analisado, que o prêmio é prematuro, que se refere apenas a ideias, quando muito a propostas que ainda não mostraram resultados práticos. Esses não entendem que mais importante, ou mais essencial, do que premiar resultados é dar apoio a idéias e propostas, pois são as idéias e as propostas que acabam por gerar resultados. Como a semente, são elas que geram a planta, que produz os frutos. Se a semente não existir, ou não for cultivada, não haverá arvore e não havendo arvore, não há frutos.
É isto que os analistas agarrados a um certo “praticismo” (os práticos), ou simplesmente equivocados, não sabem. Ou sabendo, não consideram.
Também não sabem que, se a semente que gera a árvore não for boa, seus frutos, ou resultados, serão maus, por mais que por algum tempo possam parecer bons. A história, a sociedade, o mundo, estão fartos de ter vivido esta ilusão.
Não tenho visto, no entanto, suficientes análises nesta linha de percepção – da essencialidade das ideias, das propostas. Move-me, porém a esperança de que a Academia de Ciências da Suécia, ao premiar as idéias ou as propostas de Barack Obama – ou que ele representa, mais que os resultados dos passos iniciais, tenha decidido com esta percepção.
Tenho visto, porém, e refiro-me apenas a esses últimos tempos um tanto de equívocos das analises por resultados ou pelas conseqüenciais.
Quando o homem desembarcou na lua, os meios de toda espécie, de todo mundo, abriram manchetes para afirmar que, após esse grande passo da humanidade, a historia jamais seria a mesma. De fato, produziram-se novos avanços tecnológicos, até aplicáveis nas melhores causas, mas em que mudou a historia em termos de relacionamentos humanos, justiça, ética, segurança, paz ou, em resumo, felicidade?
Manchetes semelhantes - “o mundo jamais será o mesmo”, foram estampadas, ditas e faladas pelos analistas de resultados, quando o terrorismo destruiu as Torres de Nova Iorque- símbolo e centro dos negócios mundiais (World Trade Center). Não me consta que o mundo tenha mudado, a não ser no recrudescimento do terrorismo, da guerra, ou na restrição crescente ás liberdades individuais, no crescimento da insegurança e do medo.
Poderia me referir, ainda, aos resultados pomposos de investidores, sistemas financeiros, bancos e outras instituições concentradoras da riqueza ou dos bens do mundo, que dominam a cada hora novas tecnologias, impõem novas condutas, manipulam situações de mercado, conceitos em que pretendem resumir o homem e o mundo. Não me consta que eles tenham feito um mundo diferente, melhor na sua natureza ou em seus processos de convivência. Ao contrario, tem sido geradas crises em agravamento – não apenas financeiras, mas no campo da cultura, da ética, do psiquismo humano, na sustentabilidade da vida pessoal e societária na preservação do Planeta e de seus recursos. Essas questões também tem sido pouco considerados pelas análises dos “práticos”, objetivos, colhedores de frutos ou resultados e – não plantadores ou cultivadores de sementes.
Para esses, é preciso lembrar que são as ideias e as propostas – as sementes - que geram as ações, ou o futuro, e não a colheita do fruto. Sempre, e em tudo, foi e continuará sendo assim pois assim é a natureza de tudo.
De minha distancia, aplaudo, pois, o prêmio Nobel da Paz para Barack Obama, plantador e cultivador da semente da paz, da convivência plural e harmônica,do diálogo, do pluralismo, do respeito, inclusive ou sobretudo dos mais fortes para com os mais fracos, da proposta, portanto, de mudanças do mundo, não apenas na superação das crises, ou na superfície, mas em sua essencialidade.
Os resultados apenas começam a aparecer: o retorno ao reconhecimento do multilateralismo no lugar do unilateralismo prepotente; a retomada do desarmamento atômico, não só contendo a proliferação das armas nucleares mas limitando os estoques e a expansão dos que as possuem; o reconhecimento da responsabilidade dos países, incluindo o seu próprio na crise das mudanças climáticas; a diplomacia do dialogo ao invés da diplomacia da ameaça e da retaliação; enfim, alem dessas questões referentes a humanidade, as questões internas, de seu próprio país e o símbolo que ele passou a representar de que os anseios, a consciência e os valores da sociedade podem se sobrepor ao poder dos sistemas. Mover a pedra da intolerância, da prepotência, da ambição sem limites do poder, da riqueza e da ganância, constitui o grande plantio, a necessária semente ou o grande passo, e a corajosa proposta, capazes de desobstruir o caminho para a paz, a justiça, a participação e a solidariedade.
A dimensão que vierem alcançar os resultados dependerá de que os “práticos” não consigam destruir a semente, de que a semente se fortaleça para auto-sustentar se na transformação do mundo; de que os realistas – refiro-me aos realistas do realismo essencial - ou da força das ideias e das propostas, prevaleçam sobre os realistas de resultados, ou seja de que se amplie a “audácia da esperança”, como diria, ele próprio, Obama. Tenho, pois, a audácia da esperança de acreditar que, na sua decisão de atribuir o Nobel da Paz á idéias, símbolos e propostas, antes que a resultados, os conspícuos membros da Academia de Ciências da Suécia, tenham percebido que o mundo pode não ser mais o mesmo depois de Barack Obama – não por ele, mas pelo empurrão que suas ideias, seu simbolismo e suas propostas deram nos valores e aspirações da massa de consciência que cresce no mundo. Se assim foi, terá sido dado um significativo passo na transformação do mundo ou da historia, no rumo da humanização e da sustentabilidade, ou seja, do processo humano da Participação e da Solidariedade.
Enviado por http://portal2.unisul.br/content/jornalunisulhoje/blogs/blogdodellagiustina.cfm

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