domingo, 4 de outubro de 2009

Escravos da Liberdade

Que conceito de liberdade permeia nosso entendimento, à luz de Aurélio e à Guisa de nós mesmos, em face da conjuntura que nossa história nos prescrevera?
É possível que uma reflexão mais acurada do pretérito que escrevemos, após os eventos do Ipiranga, da Lei Áurea, e da expulsão dos holandeses e judeus de Pernambuco, nossa visão sobre este tema mude um pouco! Liberdade, talvez, seja uma das coisas mais relativas da vida.
Que Estado livre nos outorgou Dom Pedro, diante de todos os descaminhos governamentais por que passamos, das Capitanias Hereditárias à ditadura militar e, mais recentemente, à democracia vilipendiada pelos estrondosos escândalos de corrupção, que ferem o erário brasileiro e os preceitos básicos de ética e civismo da nação?
Que liberdade nos prescreveu a Princesa Isabel, se nossos semáforos, hoje, são moradia e ponto de mendicância de verdadeiros escravos sociais – na maioria dos casos – de pele pigmentada? Que liberdade nós conquistamos ao expulsar daqui Maurício de Nassau e, com ele, alguns princípios de cidadania que o tempo é pródigo em mostrar que não fomos capazes de desenvolver, enquanto “livres”?
Que idéia de liberdade formamos ao açoitar o capital judeu, no início de nossa organização sócio-política, se somos escravos, agora, do dinheiro volátil internacional, que deixa nossa economia a mercê dos eventos globalizados, os mais diversos?
Parece razoável pensar que nos constituímos escravos de nosso passado, de nossas dívidas externas e de nossos próprios mecanismos de sujeição.
– O que dizer do INSS e da CPMF sem saúde, do IPVA sem estradas, do IR sem escolas e das dezenas de siglas dentro deste mesmo diapasão?
Como se não bastasse, a modernidade e a violência, travestidas de liberdade, nos apregoam uma escravidão sem antecedentes em nosso país! Esta convulsão social que construímos nos castrou a liberdade de caminhar pelas ruas das cidades, nos tirara o direito de entrar num estabelecimento comercial sem o pavor dos assaltos, de dirigir nossos veículos sem o pânico do seqüestro e do roubo iracundo!
Pior, ainda, essa escalada de violência está formando no bojo social mais limpo uma nova mentalidade conceitual. Não raro, ouvimos a seguinte colocação de vítimas coagidas pelo crime xucro e desumano: “Graças a Deus que só levaram o carro e os pertences materiais!”
– Onde vamos parar? Ou melhor, aonde não vamos, porque a melhor política, hoje, é não sair de casa (estamos presos em nossas próprias residências)!
Finalmente, a tecnologia e suas grandes conquistas – pautadas na busca da independência humana – nos escravizam ao agredir a liberdade individual, em gradação constante!
Somos escravos modernos de longas horas-extras de trabalho, às vezes, madrugadas-a-dentro, para atendermos à demanda de e-mails e afazeres outros desta nova época!
E o que dizer do telefone móvel, que nos cerceia o direito mais genuíno de, em algum momento mais nosso, não termos o direito de não estar!
Assim, parece cada dia mais viva a célebre frase do brigadeiro Eduardo Gomes, que em 1946 perdera a disputa pela Presidência da República para outro militar, o General Eurico Gaspar Dutra: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Sinceramente, precisamos rever nossos conceitos de liberdade, ou de escravidão.

Avaniel Marinho, Cronista e Poeta

http://www.avanielmarinho.com.br/cronicasnew/

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